Falar da desigualdade de género é para mim uma batalha, na maior parte das vezes incompreendida por grande parte da população masculina que tem tendência a desvalorizar e até contrariar. Mesmo assim não deixo de tentar sempre fazer ver a realidade dura da maior parte das mulheres no seu dia-a-dia e, quando consigo fazer ver a alguém as desvantagens de que todas as mulheres são portadoras, fico extremamente feliz. Conseguir mudar a visão de apenas uma pessoa é para mim uma vitória, já que uma das minhas frases preferidas neste contexto é “grão a grão, enche a galinha o papo”.
E é assim que chego ao assunto de hoje. Porque fico tão magoada e triste quando se trata de ser necessário fazer ver a desigualdade a uma mulher. Como é possível? Como pode uma mulher tecer comentários sexistas? Como pode uma mulher fazer-se reduzir ao facto de se achar de alguma forma um ser inferior? Como pode uma mulher concordar com comentários sexistas de alguém que deve pensar que nasceu de uma chocadeira e não de uma mulher? E não só concordar mas ainda reforçar. Como podemos mudar a nossa sociedade quando são as próprias mulheres a criar estereótipos que validam os comportamentos machistas?
Pronto, desabafei.
E para ti Mulher, que ainda vives com o pensamento retrógrado que te foi incutido na tua educação, não, não somos inferiores. Somos seres humanos iguais de direitos e deveres. Merecemos a igualdade, principalmente a igualdade de oportunidades. Merecemos que nos ouçam quando não concordamos com a forma como somos tratadas, quando nos descriminaram no nosso trabalho por sermos mulheres, quando não aceitam a verdade dos factos ao enfrentar um colega do sexo masculino, quando nos ROUBAM no nosso salário porque somos mulheres. Sim, ROUBAM. Porque desempenhamos a mesmíssima tarefa que o nosso colega do lado, quem sabe até com mais responsabilidades, e o nosso salário é quase 50% inferior. E quem rouba alguma coisa é ladrão. Com todas as letras, L A D R Ã O.
No passado dia 2 de Junho falei aqui http://osexodosanjos.blogs.sapo.pt/trabalhadoras-portuguesas-tem-mais-6316 da questão da desigualdade na retribuição salarial entre homens e mulheres, no acesso a lugares mais destacados nas empresas e na progressão das carreiras. Este é um assunto que me toca profundamente desde o início da minha vida profissional uma vez que sempre me considerei descriminada em favor de colegas do sexo masculino, embora desempenhasse tão bem ou melhor as mesmas funções.
No dia 24 de Outubro de 1975, decorria o ano pós revolução dos cravos em Portugal, as mulheres da Islândia resolveram entrar em greve para reivindicar a sua emancipação. Naquele dia elas recusaram-se a trabalhar, a cozinhar e a tratar das crianças por um dia. Foi o momento que mudou definitivamente a forma como as mulheres eram vistas e que ajudou a colocar a Islândia na vanguarda da luta pela igualdade.No ano seguinte o parlamento aprovou uma lei garantindo igualdade salarial.
Em Novembro de 1980 Vigdis Finnbogadottir, mãe solteira, divorciada, foi eleita presidente da Islândia, tornando-se a primeira mulher a ser presidente na Europa e a primeira mulher a ser democraticamente eleita como chefe de estado. Ocupou o lugar por 16 anos e a Islândia passou a ser conhecida como “o país mais feminista do mundo”.
Vigdis Finnbogadottir sempre disse que nunca teria sido presidente se o tão famoso dia 24 de Outubro de 1975, dia em que 90% das mulheres do país decidiram demonstrar a sua importância fazendo greve, não tivesse acontecido. “ O que aconteceu naquele dia foi o primeiro passo para a emancipação das mulheres na Islândia, paralisou completamente o país e abriu os olhos de muitos homens. Bancos, fabricas e lojas tiveram que fechar, tal como escolas e creches, obrigando os pais a levar os filhos para o trabalho”. Foi uma longa sexta-feira.
Hoje o texto não é meu. Permito-me partilhar aqui um texto fabuloso de Paula Cordeiro que espelha a realidade da grande percentagem de mães e mulheres deste país.
Não defendo a ideia de que homens e mulheres têm de ser iguais, porque não são, mas defendo a ideia de que uma relação se baseia numa partilha não apenas da intimidade mas de tudo o que esta representa, inclusivamente apanhar as meias do chão. Partilhar não é 'dar uma ajuda' ou 'apoiar'. Partilhar é assumir e fazer.
O movimento, criado pela actriz Emma Watson e apoiado pelas Nações Unidas, tem como objetivo acabar com a desigualdade de género.
O mundo está num momento de mudanças. Em todos os lugares, as pessoas entendem e apoiam a ideia da igualdade de género. Eles sabem que não é apenas uma questão das mulheres mas sim um assunto de direitos humanos. E quando essas vozes poderosas forem ouvidas, elas irão mudar o mundo. A hora da mudança é agora. O Movimento http://www.heforshe.org/pt convida pessoas do mundo inteiro para, juntas, criarem uma força visível e corajosa pela igualdade de género.
A Comissão de Igualdade entre Mulheres e Homens, organização
especifica da CGTP-IN, realiza hoje, dia 2 de Junho de 2017, no
Olaias Park Hotel, em Lisboa, a 7ª Conferência Nacional da Comissão para
a Igualdade entre Mulheres e Homens/CGTP-IN.
Este artigo foi publicado hoje no JN, não posso deixar de o partilhar.
As mulheres trabalhadoras portuguesas têm habilitações superiores aos homens, mas ocupam sistematicamente níveis de qualificação mais baixos e têm um salário base médio inferior em 16,7%, segundo um estudo da CGTP-IN a divulgar hoje.