Falar da desigualdade de género é para mim uma batalha, na maior parte das vezes incompreendida por grande parte da população masculina que tem tendência a desvalorizar e até contrariar. Mesmo assim não deixo de tentar sempre fazer ver a realidade dura da maior parte das mulheres no seu dia-a-dia e, quando consigo fazer ver a alguém as desvantagens de que todas as mulheres são portadoras, fico extremamente feliz. Conseguir mudar a visão de apenas uma pessoa é para mim uma vitória, já que uma das minhas frases preferidas neste contexto é “grão a grão, enche a galinha o papo”.
E é assim que chego ao assunto de hoje. Porque fico tão magoada e triste quando se trata de ser necessário fazer ver a desigualdade a uma mulher. Como é possível? Como pode uma mulher tecer comentários sexistas? Como pode uma mulher fazer-se reduzir ao facto de se achar de alguma forma um ser inferior? Como pode uma mulher concordar com comentários sexistas de alguém que deve pensar que nasceu de uma chocadeira e não de uma mulher? E não só concordar mas ainda reforçar. Como podemos mudar a nossa sociedade quando são as próprias mulheres a criar estereótipos que validam os comportamentos machistas?
Pronto, desabafei.
E para ti Mulher, que ainda vives com o pensamento retrógrado que te foi incutido na tua educação, não, não somos inferiores. Somos seres humanos iguais de direitos e deveres. Merecemos a igualdade, principalmente a igualdade de oportunidades. Merecemos que nos ouçam quando não concordamos com a forma como somos tratadas, quando nos descriminaram no nosso trabalho por sermos mulheres, quando não aceitam a verdade dos factos ao enfrentar um colega do sexo masculino, quando nos ROUBAM no nosso salário porque somos mulheres. Sim, ROUBAM. Porque desempenhamos a mesmíssima tarefa que o nosso colega do lado, quem sabe até com mais responsabilidades, e o nosso salário é quase 50% inferior. E quem rouba alguma coisa é ladrão. Com todas as letras, L A D R Ã O.
Publicado hoje, o novo relatório da ONU sobre a violência contra as mulheres no Afeganistão constata que as vítimas são, muitas vezes, pressionadas a aceitar a mediação, em vez de o suposto autor ser levado a julgamento. “Usar a mediação para tais ofensas é, em seu cerne, uma violação dos direitos humanos por parte do Estado, que tem a obrigação de assegurar a prevenção eficaz de tais crimes, a proteção das mulheres, e fornecer uma resposta efetiva onde tal violência ocorre. O amplo uso da mediação quando uma mulher ou menina foi espancada, mutilada ou assassinada, ou quando ela foi vítima desse conceito horrível de 'assassinato por honra', normaliza essa violência e torna muito mais provável que ela ocorra novamente. Também corrói a confiança das mulheres - e do público em geral - no sistema legal”, disse o Alto Comissário da ONU para Direitos Humanos, Zeid Ra'ad Al Hussein.
Hoje partilho convosco, integralmente, um artigo do correio da manhã. Porquê?
Porque vivo em Coimbra, porque amo Coimbra, porque tenho filhas universitárias, porque conheço esta realidade.
Como é possível que, em 2018, em pleno seculo XXI, ainda estejamos nós, mulheres, sujeitas a este tipo de realidade? Uma realidade crua, dura e demasiado violenta.
Meninas que, na maior parte dos casos, vêm de pequenas localidades, completamente alheias ao que vão encontrar, sem indicações sobre como se protegerem. Podem dizer que, na atualidade, já conhecem todos os perigos mas, a realidade é demasiado brutal e muito mais violenta do que podem pensar.
Um estudo realizado pela UMAR Coimbra sobre a violência sexual em contexto académico revela que 94,1% das mulheres inquiridas já foram alvo de assédio sexual, 21,7% de coerção sexual e 12,3% reportaram já terem sido violadas.
Cerca de um terço das mulheres que responderam ao inquérito da UMAR - União de Mulheres Alternativa e Resposta referiram que já foram vítimas de 'stalking' (perseguição) e cerca de metade já tiveram contacto sexual não consentido, revela a nota de imprensa da organização enviada à agência Lusa.
Marielle Franco, vereadora pelo Rio de Janeiro, negra, feminista, quinta mais votada para o cargo, foi executada.
Existem fortes indícios de que foi assassinada devido à sua luta contra as ações da PM contra os jovens negros da favela.
Marielle Franco, eleita pelo partido PSOL, tinha acabado de participar num evento chamado "Jovens Negras Movendo as Estruturas", uma das muitas campanhas em que estava envolvida na luta contra a violência, o racismo e a discriminação. Horas antes do crime, Marielle tinha publicado um post no Twitter sobre mais um caso de violência policial em que perguntava: "Quantos mais vão precisar morrer para que essa guerra acabe?" A morte de Marielle está a causar uma onda de consternação no Brasil, com políticos, artistas e figuras da sociedade a lamentarem o seu desaparecimento.
Marielle Franco tinha muito pelo que lutar. Acreditava que podia mudar o sistema, mas tornou-se apenas uma estatística. Não vai haver comoção mundial pela sua morte. Provavelmente nem encontrarão os culpados.
Não deixem que isso aconteça, não deixem que se torne apenas estatística. Saibam dessa morte. Divulguem.
Celebrou-se no dia 25 de Novembro o dia Internacional contra a violência de género. Foi neste dia, em 1960, que foram encontrados os cadáveres de três irmãs, Minerva, Patria e Maria Teresa Mirabal, assassinadas pelo regime do ditador Trujillo na Republica dominicana, pelo facto de serem mulheres e ativas militantes anti regime.
Anos mais tarde, em 1999, a ONU, em homenagem às irmãs Mirabal, declarou o dia 25 de Novembro, dia internacional para a eliminação da violência contra a mulher.
A violência de género contínua presente na nossa sociedade em forma de agressões e abusos em milhares de vítimas em todo o mundo. A cada 25 de Novembro soam as vozes da denúncia a favor da sua erradicação definitiva.